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quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Mini-férias.


Malandro que é malandro não se aposenta, só tira férias.

Ficarei com saudades,mas não demoro.
Volto dia 7 de Dezembro,até lá façam o favor de serem felizes.

Viajar.





Para viajar basta existir.


Vou de dia para dia, como de estação


para estação, no comboio do meu corpo,


ou do meu destino,


debruçado sobre as ruas e as praças,


sobre os gestos e os rostos,


sempre iguais e sempre diferentes,


como,afinal, as paisagens são.


Se imagino, vejo.


Que mais faço eu se viajo?


Só a fraqueza extrema da imaginação


justifica que se tenha que deslocar para sentir.


"Qualquer estrada, esta mesma estrada de Entepfuhl,


te levará até ao fim do mundo".


Mas o fim do mundo,


desde que o mundo se consumou dando-lhe a volta,


é o mesmo Entepfuhl de onde se partiu.


Na realidade, o fim do mundo,


como o principio, é o nosso conceito do mundo.


É em nós que as paisagens tem paisagem.


Por isso, se as imagino, as crio;


se as crio, são; se são, vejo-as como ás outras.


Para que viajar? Em Madrid,em Berlim,


na Pérsia, na China, nos Pólos ambos,


onde estaria eu senão em mim mesmo,


e no tipo e gênero das minhas sensações?


A vida é o que fazemos dela.


As viagens são os viajantes.


O que vemos, não é o que vemos,


senão o que somos.




Fernando Pessoa

7 Anos, 7 Dias, 7 Surpresas




7º Aniversário do Ginásio Municipal de Constância
De 2 a 13 de Dezembro De 2 a 13 de Dezembro o Ginásio Municipal de Constância, promove a actividade 7 Anos, 7 Dias, 7 Surpresas, uma iniciativa que assinala o 7º aniversário desta infra-estrutura desportiva do concelho, a qual se localiza no Pavilhão Desportivo Municipal.

7 Anos, 7 Dias, 7 Surpresas, é o mote para as diversas actividades desportivas que vão decorrer no âmbito desta data comemorativa, as quais integram Avaliações de Condição Física, treinos Grátis e Hip Hop Kids (nas escolas) as quais culminarão com uma Mega Aula de Fitness em Circuito, que terá lugar no dia 10 de Dezembro, na nave principal do Pavilhão Desportivo Municipal.

Todas as actividades são gratuitas e abertas à população em geral, bastando para participar nas mesmas, proceder à respectiva inscrição nos serviços da Piscina Municipal (249 739 627) ou do Pavilhão Desportivo Municipal (249 730 059).
Por CMC

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Queda do império.



Cati e Vitorino.

Não se Casem Raparigas !




Já viram um homem em pêlo
Sair de repente da casa de banho
Escorrendo por todos os pêlos
Com o bigode cheio de pena
Já viram um homem muito feio
A comer esparguete
Garfo em punho e ar de bruto
Com molho de tomate no colete
Quando são bonitos são idiotas
Quando são velhos são horríveis
Quando são pequenos são maus
Já viram um homem gordo à beça
Extrair as pernas do ó-ó
Massajar a barriga e coçar as guedelhas
Olhando pensativo para os pés


Não se casem raparigas não se casem
Façam antes cinema
Fiquem virgens em casa do papá
Sejam serventes no carvoeiro
Criem macacos criem gatos
Levantem a pata na Ópera
Vendam caixas de chocolate
Professem ou não professem
Dancem em pêlo para os gagás
Sejam matadoras na avenida do Bois
Mas não se casem raparigas
Não se casem


Já viram um homem à rasca
Chegar tarde para o jantar
Com baton no colarinho
E tremeliques nas gâmbias
Já viram no cabaret
Um senhor não muito fresco
Roçar-se com insistência
Numa florzinha de inocência
Quando são burros aborrecem
Quando são fortes fazem sports
Quando são ricos guardam o milho
Quando são duros torturam
Já viram ao vosso braço pendurado
Um magrizela de olhos de rato
Frisar os três pêlos do bigode
E empertigar-se com um ar de bode


Não se casem raparigas não se casem
Vistam os vossos vestidos de gala
Vão dançar ao Olímpia
Mudem de amante quatro vezes por mês
Peguem na massa e guardem-na
Escondam-na fresca debaixo do colchão
Aos cinquenta anos pode servir
Para sacar belos rapazes
Nada na cabeça tudo nos braços
Ah que bela vida será
Se não se casarem raparigas
Se não se casarem

Boris Vian, in "Canções e Poemas

Pensamentos sobre o casamento.




1. Li recentemente que amor é um assunto de química. Deve ser por isso
que minha mulher me trata da mesma forma como trata os resíduos tóxicos.


2. Quando um homem te rouba a mulher, não há melhor vingança do que
deixar que fique com ela.


3. Após o casamento, o homem e a mulher tornam-se as duas faces da
mesma moeda: não se podem ver mas permanecem juntos.


4. De qualquer das maneiras casa-te. Se arranjares uma boa mulher,
serás feliz. Se arranjares uma má esposa, tornar-te-às um filósofo.


5. As mulheres inspiram-nos para grandes coisas, e privam-nos de alcançá-las.


6. A grande questão... a que nunca fui capaz de responder é: 'O que é
que uma mulher quer?


7. Troquei algumas palavras com minha mulher e ela trocou alguns
parágrafos comigo.


8. 'Algumas pessoas costumam perguntar o segredo do nosso longo
casamento e eu lhes respondo: Vamos ao restaurante 1 vez por semana
para um jantarzinho à luz de vela, um pouco de música e dança. Ela
vai às terças, eu vou às sextas.'


9. 'Não estou preocupado nem assustado com o terrorismo . Já estive
casado por 2 anos....'


10. 'Há uma maneira muito mais fácil e rápida de transferir fundos que
é ainda melhor que as caixas automáticas: Chama-se casamento .'


11. 'Tive pouca sorte com as minhas 2 mulheres. A primeira foi-se
embora e a segunda não me quer deixar .'


12. Dois (2) segredos para manter brilhante o teu casamento:
a. Mesmo que não estejas errado, admite que estás
b. Mesmo que estejas certo, mantém-te calado.


13. A maneira mais eficaz de lembrar o aniversário da sua esposa é
esquecê-lo uma vez.


14. Sabem o que fiz antes de me casar? Tudo o que queria fazer!

15. Eu e minha mulher fomos felizes por 20 anos. Depois encontrámo-nos...


16. Uma boa esposa perdoa sempre o seu marido quando ela estiver errada!


17. O casamento é a única Guerra onde os inimigos dormem juntos!


18. Um homem colocou um anúncio dizendo: 'procura-se mulher'. No dia
seguinte recebeu centenas de cartas. Todas diziam a mesma coisa:
'podes ficar com a minha'


19. O 1ºtipo (todo orgulhoso) diz: 'Minha mulher é um anjo!'
O 2ºtipo diz: 'Tens muita sorte, a minha ainda está viva.'

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Busque Amor novas artes, novo engenho.




Busque Amor novas artes, novo engenho
Pera matar-me, e novas esquivanças,
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, enquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê,

Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como e dói não sei porquê.

Luís de Camões

Olhos.


A natureza e os livros pertencem aos olhos que os vêem .

4º Encontro Confluências




O Papel da Sociedade na Protecção das Crianças - Que Respostas? No dia 26 de Novembro, entre as 14 e as 17 horas, o Cine-Teatro Municipal recebe o 4º Encontro Confluências, subordinado ao tema O Papel da Sociedade na Protecção das Crianças – Que Respostas?, uma organização da Comissão de Protecção e Crianças de Constância (CPCJ), com o apoio da Câmara Municipal de Constância e da Caixa Geral de Depósitos.

Após a sessão de abertura que contará com a presença do Dr. António Marques, Presidente da CPCJ, e da Dra. Júlia Amorim, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Constância, às 14.45h, decorrerá a primeira intervenção intitulada O Papel da Sociedade na Protecção das Crianças, pelo Prof. Doutor Fernando Silva, Professor da Universidade Autónoma de Lisboa. Às 16 horas terá lugar o painel Que Respostas?, pela Dr. Manuela Quintanilha, Psicóloga Clínica. Seguir-se-á um espaço de debate entre os participantes e os oradores.
Por CMC

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Árvores de Natal e Presépios



No Parque Ambiental No próximo dia 1 de Dezembro o Parque Ambiental de Santa Margarida dinamiza a Oficina Ambiental «Construir a Árvore de Natal e o Presépio com materiais reutilizáveis», uma iniciativa que terá o seu início às 14 horas.

Com o aproximar da época Natalícia começamos a pensar na construção da Árvore de Natal e do Presépio, é tradição a utilização de pinheiros que muitas vezes são cortados na floresta e de musgo que é arrancado do solo. Destas práticas resultam impactos negativos na biodiversidade, no solo e na água.

Assim, o Parque Ambiental de Santa Margarida propõe uma actividade onde se aprenderá a construir uma Árvore de Natal e um Presépio com outros materiais que podem ser reutilizados.

A participação na Oficina Ambiental é gratuita, implicando apenas a respectiva inscrição, a qual deverá ser efectuada no Parque Ambiental de Santa Margarida, presencialmente ou através dos seguintes contactos: Telf: 249 736 929; e-mail: parqueambiental@cm-constancia.pt

Por CMC

Fontes.


A leitura é uma fonte inesgotável de prazer mas por incrível que pareça, a quase totalidade, não sente esta sede.

Pinceladas.


Para mim o acto de pintar é sempre mais importante do que a coisa pintada .

O corpo.




Ante as portas desgarradas, paradoxal
é a morte: impossível, feito realidade,
acaso predito. Corpo, deus imortal,
para sempre cego e mudo, abandona-te ao livre

ar. Que te transformes e assemelhes à noite.
Tempestade final das sombras, foste, corpo,
respiração com voz, área que habitaste,
vária e discordante, a cada movimento.

E agora que a luz desfalece e não a tocas,
nem por ela és tocado, a palavra deixou
de ser a tua pátria e não mais esfolias

o espaço. Agora, que já nada mudará,
nenhuma eternidade te rescende. A morte
petrifica o frágil espaço que foi teu.

Orlando Neves, in "Decomposição - o Corpo"

domingo, 23 de novembro de 2008

Estou na lua.



Os lunáticos.

Lua adversa.




Tenho fases, como a lua,
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!

Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...).
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

Cecília Meireles, in 'Vaga Música'

As nossas luas...


Cada um de nós é uma lua e tem um lado escuro que nunca mostra a ninguém ...

sábado, 22 de novembro de 2008

Nothing else maatters-Mettalica



Por aqui (Antwerpen) a neve já apareceu, um pouco envergonhada mas deu jà sinal de vida.

Um bom fim de semana para todo o mundo.

Não só Vinho!




Não só vinho, mas nele o olvido, deito
Na taça: serei ledo, porque a dita
É ignara. Quem, lembrando
Ou prevendo, sorrira?
Dos brutos, não a vida, senão a alma,
Consigamos, pensando; recolhidos
No impalpável destino
Que não 'spera nem lembra.
Com mão mortal elevo à mortal boca
Em frágil taça o passageiro vinho,
Baços os olhos feitos
Para deixar de ver.

Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa

Um bom par de anos depois.



Heroes del silencio

Heroes del silencio.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Mecenato.


Fundação EDP assinou Protocolo de Apoio Mecenático com o Centro Ciência Viva de Constância - Parque de Astronomia
A Fundação EDP assinou recentemente um Protocolo de Apoio Mecenático com o Centro Ciência Viva de Constância – Parque de Astronomia (CCV), tendo como principal objectivo a promoção da ciência e da cultura, um acordo que permitirá adquirir e colocar em funcionamento o maior telescópio público do país.

Considerando que a Fundação EDP, criada pela EDP – Energias de Portugal, S.A. tem por fins gerais a promoção, o desenvolvimento e o apoio a iniciativas de natureza social, cultural, científica, tecnológica, educativa e ambiental, e que tanto esta instituição como o CCV visam contribuir para superar as insuficiências que existem em Portugal no que respeita ao conhecimento científico e aos meios técnicos para formar os jovens na área da Astronomia, decidiram ambas as entidades estabelecer um protocolo de parceria.

Assim, com a assinatura do Protocolo de Apoio Mecenático a Fundação EDP vai apoiar financeiramente o CCV com uma verba de 56 mil euros (dividida pelos anos 2008 e 2009) com vista à aquisição de um moderno telescópio. Com este equipamento o CCV fica apetrechado para dinamizar múltiplas iniciativas disponibilizando ao público, em particular a jovens estudantes, o acesso a recursos tecnológicos que, para além de simples curiosidades, permitem estabelecer uma relação muito próxima com os métodos modernos de aplicações tecnológicas, nomeadamente na área da Astronomia.

Para além da aquisição do equipamento acima mencionado, a Fundação EDP ajudará a promover as actividades dinamizadas pelo CCV e cederá as instalações do Museu da Electricidade para que ocasionalmente o Centro Ciência Viva lá realize conferências e exposições.

No que concerne ao papel do CCV, esta entidade colaborará na dinamização e organização de eventos de carácter científico e pedagógico no Museu da Electricidade, com o intuito de aumentar a divulgação do tema da sustentabilidade e da biodiversidade.
Por CMC

Lutar com Palavras é a Luta Mais Vã.



Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco. Algumas, tão fortes como o javali. Não me julgo louco. Se o fosse, teria poder de encantá-las. Mas lúcido e frio, apareço e tento apanhar algumas para meu sustento num dia de vida. Deixam-se enlaçar, tontas à carícia e súbito fogem e não há ameaça e nem há sevícia que as traga de novo ao centro da praça.

Carlos Drummind de Andrade, in 'Poesia Completa'

A queda de um anjo.


Relendo Camilo Castelo Branco.

A Queda dum Anjo é o título de um romance satírico de Camilo Castelo Branco, escrito em 1866.

Nele o autor descreve a corrupção de Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda, morgado de Agra de Freires, um fidalgo minhoto camiliano e o anjo do título, quando se desloca da província para Lisboa.

Uma das mais célebres obras literárias escrita por Camilo Castelo Branco. Descreve de maneira caricatural a vida social e política portuguesa e traz, ainda, um aspecto risível ao tratar, também, do desvirtuamento do Portugal antigo. É uma parábola humorística na qual o protagonista, Calisto, um fidalgo austero e conservador, encarna de maneira satírica o povo português. Ao ser eleito deputado, Calisto vai para Lisboa, onde se deixa corromper pelo luxo e pelo prazer que imperam na capital. Torna-se amante de uma prima distante, Ifigénia, uma relação reprovada pela sociedade puritana portuguesa. Outra atitude que provoca os princípios portugueses é a transição do personagem da posição política miguelista para a do partido liberal no governo. Ironicamente, a esposa de Calisto, Teodora, uma aldeã prosaica, imita-o na devassidão e é igualmente corrompida. Ao ser ignorada por Calisto, sucumbe ao prazer da modernidade juntamente com um primo interesseiro com quem tem um caso.

A sátira reside na descrição de personagens corruptos de maneira cômica. À princípio, percebe-se a defesa de uma tese, porém, o autor afrouxa essa idéia à medida em que a história vai se configurando. É uma obra que destoa do aspecto ultra-romântico de Camilo Castelo Branco, mas não deixa de pertencer a essa escola literária.

Eça de Queiroz.


Ó tio João,ouça cá!Sempre é certo você dizer por aí,pelos sítios,que el-rei D.Sebastião voltara?
O pitoresco velho apoiou as duas mãos sobre o cajado,o queixo de espalhada barba sobre as mãos,e murmurava,sem nos olhar,como seguindo a percussão dos seus pensamentos:
-Talvez voltasse,talvez não voltasse...Não se sabe quem vai,nem quem vem.A gente vê os corpos,mas não vê as almas que estão dentro.Há corpos de agora com almas de outrora.Corpo é vestido,alma é pessoa...


In a cidade e as serras.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Nada fica.

Winston Churchill.


Gosto de porcos. Os cães olham-nos de baixo, os gatos de cima. Os porcos olham-nos de igual para igual .

Uma Filosofia Toda




As bolas de sabão que esta criança
Se entretém a largar de uma palhinha
São translucidamente uma filosofia toda.
Claras, inúteis e passageiras como a Natureza,
Amigas dos olhos como as cousas,
São aquilo que são
Com uma precisão redondinha e aérea,
E ninguém, nem mesmo a criança que as deixa,
Pretende que elas são mais do que parecem ser.
Algumas mal se vêem no ar lúcido.
São como a brisa que passa e mal toca nas flores
E que só sabemos que passa
Porque qualquer cousa se aligeira em nós
E aceita tudo mais nitidamente.

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Vicios.

Cada Cabeça, Cada Sentença



A ideia de ninguém ter razão (haja ou não haja pão) é portuguesíssima. Sobre qualquer assunto, Portugal garante-nos sempre pelo menos dez milhões de razões, cada uma com a sua diferençazinha, cada uma com a sua insolenciazeca do "eu cá é que sei". Não há neste abençoado território um único sujeito, seja eu ou ele cego, surdo e mudo, que não reclame a sua inobjectivável subjectividade. Lá diz o raio do povo, por tratar-se da única coisa em que o povo todo está de acordo, «Cada cabeça, cada sentença». Basta fazer-se uma reunião ou um júri, um governo ou uma comissão, para assistir-se ao milagre da multiplicação das opiniões.

Miguel Esteves Cardoso, in 'A Causa das Coisas'

Violência doméstica.

O Mirante - diário online - Sociedade - Violência doméstica já matou 43 mulheres este ano

Brincar e Pesar o Sol.




na Semana da Cultura Científica em Constância
De 25 a 30 de Novembro De 25 a 30 de Novembro decorre em Constância a Semana da Cultura Científica, uma organização da Câmara Municipal através do Centro Ciência Viva – Parque de Astronomia (CCV) a qual decorrerá no Alto de Santa Bárbara, nas instalações do Centro Ciência Viva de Constância.

Deste modo, durante os dias do evento decorrerão múltiplas actividades denominadas Brincando com o Sol: exploração de módulos de energia solar (fotovoltaica); pesar o Sol; observações do Sol no Laboratório de Heliofísica.

As actividades estão à disposição do público em geral, bastando para isso realizar uma deslocação ao CCV.

Para mais informações ou esclarecimentos adicionais deverão os interessados contactar o Centro Ciência Viva de Constância – Parque de Astronomia, através do telefone 249 739 066 ou via correio electrónico para info@constancia.cienciaviva.pt

Por CMC

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Trocar as voltas á autoridade...

Esta é a Forma Fêmea




Esta é a forma fêmea:
dos pés à cabeça dela exala um halo divino,
ela atrai com ardente
e irrecusável poder de atração,
eu me sinto sugado pelo seu respirar
como se eu não fosse mais
que um indefeso vapor
e, a não ser ela e eu, tudo se põe de lado
— artes, letras, tempos, religiões,
o que na terra é sólido e visível,
e o que do céu se esperava
e do inferno se temia,
tudo termina:
estranhos filamentos e renovos
incontroláveis vêm à tona dela,
e a acção correspondente
é igualmente incontrolável;
cabelos, peitos, quadris,
curvas de pernas, displicentes mãos caindo
todas difusas, e as minhas também difusas,
maré de influxo e influxo de maré,
carne de amor a inturgescer de dor
deliciosamente,
inesgotáveis jactos límpidos de amor
quentes e enormes, trémula geléia
de amor, alucinado
sopro e sumo em delírio;
noite de amor de noivo
certa e maciamente laborando
no amanhecer prostrado,
a ondular para o presto e proveitoso dia,
perdida na separação do dia
de carne doce e envolvente.

Eis o núcleo — depois vem a criança
nascida de mulher,
vem o homem nascido de mulher;
eis o banho de origem,
a emergência do pequeno e do grande,
e de novo a saída.

Não se envergonhem, mulheres:
é de vocês o privilégio de conterem
os outros e darem saída aos outros
— vocês são os portões do corpo
e são os portões da alma.

A fêmea contém todas
as qualidades e a graça de as temperar,
está no lugar dela e movimenta-se
em perfeito equilíbrio,
ela é todas as coisas devidamente veladas,
é ao mesmo tempo passiva e activa,
e está no mundo para dar ao mundo
tanto filhos como filhas,
tanto filhas como filhos.
Assim como na Natureza eu vejo
minha alma refletida,
assim como através de um nevoeiro,
eu vejo Uma de indizível plenitude
e beleza e saúde,
com a cabeça inclinada e os braços
cruzados sobre o peito
— a Fêmea eu vejo.

Walt Whitman, in "Leaves of Grass"

Isto é que vai uma molenga!


O Mirante - diário online - Cavaleiro Andante - Estudantes manifestam-se sem saber ao que vão!

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Se um Dia a Juventude Voltasse .




se um dia a juventude voltasse
na pele das serpentes atravessaria toda a memória
com a língua em teus cabelos dormiria no sossego
da noite transformada em pássaro de lume cortante
como a navalha de vidro que nos sinaliza a vida

sulcaria com as unhas o medo de te perder... eu
veleiro sem madrugadas nem promessas nem riqueza
apenas um vazio sem dimensão nas algibeiras
porque só aquele que nada possui e tudo partilhou
pode devassar a noite doutros corpos inocentes
sem se ferir no esplendor breve do amor

depois... mudaria de nome de casa de cidade de rio
de noite visitaria amigos que pouco dormem e têm gatos
mas aconteça o que tem de acontecer
não estou triste não tenho projectos nem ambições
guardo a fera que segrega a insónia e solta os ventos
espalho a saliva das visões pela demorada noite
onde deambula a melancolia lunar do corpo

mas se a juventude viesse novamente do fundo de mim
com suas raízes de escamas em forma de coração
e me chegasse à boca a sombra do rosto esquecido
pegaria sem hesitações no leme do frágil barco... eu
humilde e cansado piloto
que só de te sonhar me morro de aflição

Al Berto, in 'Rumor dos Fogos'

Gabriel García Márquez.


Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem de minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do Zodíaco.

(Memórias de Minhas Putas Tristes.

Cinema.

domingo, 16 de novembro de 2008

Pudor.


O pudor inventou a roupa para que se tenha mais prazer com a nudez ...

A mulher nua.




Humana fonte bela,
repuxo de delícia entre as coisas,
terna, suave água redonda,
mulher nua: um dia,
deixarei de te ver,
e terás de ficar
sem estes assombrados olhos meus,
que completavam tua beleza plena,
com a insaciável plenitude do seu olhar?

(Estios; verdes frondas,
águas entre as flores,
luas alegres sobre o corpo,
calor e amor, mulher nua!)

Limite exacto da vida,
perfeito continente,
harmonia formada, único fim,
definição real da beleza,
mulher nua: um dia,
quebrar-se-á a minha linha de homem,
terei que difundir-me
na natureza abstracta;
não serei nada para ti,
árvore universal de folhas perenes,
concreta eternidade!

(Juan Ramón Jiménez.)

Se tanta pena tenho merecida




Se tanta pena tenho merecida
Em pago de sofrer tantas durezas,
Provai, Senhora, em mim vossas cruezas,
Que aqui tendes u~a alma oferecida.

Nela experimentai, se sois servida,
Desprezos, desfavores e asperezas,
Que mores sofrimentos e firmezas
Sustentarei na guerra desta vida.

Mas contra vosso olhos quais serão?
Forçado é que tudo se lhe renda,
Mas porei por escudo o coração.

Porque, em tão dura e áspera contenda,
Fé bem que, pois não acho defensão,
Com me meter nas lanças me defenda.

Luís de Camões

Constância.


O Mirante - diário online - Sociedade - Obras na margem direita do rio Zêzere reparam danos das cheias em Constância

sábado, 15 de novembro de 2008

Crianças.


Nunca ameace uma criança: castigue-a ou perdoe-a .

Caminharemos de Olhos Deslumbrados.




Caminharemos de olhos deslumbrados
E braços estendidos
E nos lábios incertos levaremos
O gosto a sol e a sangue dos sentidos.

Onde estivermos, há-de estar o vento
Cortado de perfumes e gemidos.
Onde vivermos, há-de ser o templo
Dos nossos jovens dentes devorando
Os frutos proibidos.

No ritual do verão descobriremos
O segredo dos deuses interditos
E marcados na testa exaltaremos
Estátuas de heróis castrados e malditos.

Ó deus do sangue! deus de misericórdia!
Ó deus das virgens loucas
Dos amantes com cio,
Impõe-nos sobre o ventre as tuas mãos de rosas,
Unge os nossos cabelos com o teu desvario!

Desce-nos sobre o corpo como um falus irado,
Fustiga-nos os membros como um látego doido,
Numa chuva de fogo torna-nos sagrados,
Imola-nos os sexos a um arcanjo loiro.

Persegue-nos, estonteia-nos, degola-nos, castiga-nos,
Arranca-nos os olhos, violenta-nos as bocas,
Atapeta de flores a estrada que seguimos
E carrega de aromas a brisa que nos toca.

Nus e ensanguentados dançaremos a glória
Dos nossos esponsais eternos com o estio
E coroados de apupos teremos a vitória
De nos rirmos do mundo num leito vazio.


Ary dos Santos, in 'Liturgia do Sangue'

Á flor da pele.



Acende o cigarro, rapariga. E olha para a
rua onde passam transeuntes desconhecidos.
A tarde vai avançando e nós morrendo nela
ou morrendo nela as nossas esperanças,
a ilusão de eternidade. A beleza o que é?
Braços nus, o ventre liso nu, os cabelos caídos
nos ombros. A desconhecida concentra em si
a atenção do homem desocupado. Para
distrair-se, ele olha para ela e recorda-se
da história antiga do amor, reconstrói
ficções que sabe serem apenas ficções. Assim
passa o tempo, depois irá para casa. Quem
sabe o segredo mais secreto da existência
de cada um? Todos nós temos uma
história. Uns calam-na, outros murmuram
entre dentes os episódios essenciais, outros
encontram palavras com que construir o
poema hermético. Que diferença é que faz?
De tudo se constrói a existência, se alimenta
o sentido. Camisa branca à flor da pele, a
rapariga levantou-se e foi lá dentro do café
comprar qualquer coisa. Palavras, deixai-me
celebrar o vão movimento dos ponteiros do
relógio, os episódios vãos, a nossa morte.

(João Camilo)

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Recordando...




Bom fim de semana para todo o mundo.

O espantalho.





Ao meu redor cresce verde a lavoura
e eu sou de seca palha

Ao meu redor homens se movem e trabalham
e eu resisto imóvel ao meu ofício triste

Estou cercado de arame por toda parte
por toda parte assusto pássaros que amo

Meus braços estão abertos para o espanto
não para o trabalho ou o abraço

Meu corpo de palha seca
nunca sentiu a volúpia dos bichos

Vivo abismado e só
Escancarado sob a luz dos astros

(Irema Macedo)

Cinema.


O cinema não tem fronteiras nem limites. É um fluxo constante de sonho .

As Pessoas são Como os envelopes.



As pessoas e os encontros, por vezes, são como os envelopes bem endereçados que recebemos. Sabe-se o nome e a morada, mas não se sabe o que vem lá dentro. Será uma conta a pagar, um convite, um folheto de publicidade? Será uma cunha, umas boas festas? É que o envelope rasga-se e depois vê-se o que vem lá dentro. As intenções do coração vêm sempre ao de cima, não há máscara que lhes resista...

Vasco Pinto de Magalhães, in 'Não Há Soluções, Há Caminhos'

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Transforma-se o amador na cousa amada.




Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si sómente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim co'a alma minha se conforma,

Está no pensamento como ideia;
[E] o vivo e puro amor de que sou feito,
Como matéria simples busca a forma.


Luís de Camões

Ser ou não ser...


Quem não quer ser urso, não lhe veste a pele!

Ausência.


Em amor, a ausência, quando não é o maior dos males, é o melhor dos remédios.

Tempo.




Tempo — definição da angústia.
Pudesse ao menos eu agrilhoar-te
Ao coração pulsátil dum poema!
Era o devir eterno em harmonia.
Mas foges das vogais, como a frescura
Da tinta com que escrevo.
Fica apenas a tua negra sombra:
— O passado,
Amargura maior, fotografada.

Tempo...
E não haver nada,
Ninguém,
Uma alma penada
Que estrangule a ampulheta duma vez!

Que realize o crime e a perfeição
De cortar aquele fio movediço
De areia
Que nenhum tecelão
É capaz de tecer na sua teia!

Miguel Torga, in 'Cântico do Homem'

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

XXII Feira do Livro e XIII Feira do Disco



A XXII Feira do Livro e XIII Feira do Disco, organizada pela Câmara Municipal de Constância, através da Biblioteca Municipal Alexandre O'Neill, decorrerá de 23 a 30 de Novembro, no Cine-Teatro Municipal de Constância, constituindo-se como um momento anual de promoção do Livro e da Leitura.

No domingo, dia 23, a inauguração da Feira do Livro e do Disco decorrerá às 15.00H, ao que se seguirá o espectáculo de teatro Felizmente há luar de Luís Sttau Monteiro, representado pelo Teatro Meia Via - Associação Cultural de Torres Novas.

Na segunda-feira, dia 24, às 10.00H, 11.00H, 14.00H e 15.30H ocorrerá a actividade Constância à Escrita, tendo como interveniente o ilustrador Pedro Leitão.

Na terça-feira, dia 25, às 10.00H, decorrerá a actividade de animação e promoção da leitura O Cantinho das Histórias, dinamizado pelo Curso de Apoio à Criança da Escola Básica e Secundária Luís de Camões. Pelas 14.00H o espectáculo Livro que ladra não morde, apresentado pela Associação Cultural e Pesquisa Teatral A Gaveta.

Na quarta-feira, dia 26, às 10.00H e 11.00H a iniciativa Constância à Escrita, terá como convidada a escritora Luísa Fortes da Cunha. Pelas 14.30H terá lugar o 4º Encontro Confluências, organizado pela Comissão de Protecção de Crianças e Jovens de Constância.

Na quinta-feira, dia 27, às 10.00H a actividade de animação O Cantinho das Histórias dinamizado pelo Curso de Apoio à Criança da Escola Básica e Secundária Luís de Camões. Às 14.00H e 15.00H, a iniciativa Constância à Escrita, terá como convidada a escritora Luísa Ducla Soares.

Na sexta-feira, dia 28, às 10.00H e 14.00H a actividade de animação O Cantinho das Histórias dinamizado pelo Curso de Apoio à Criança da Escola Básica e Secundária Luís de Camões. Às 21.00H o espectáculo Vieira, a voz visível pelo grupo de Teatro Há Cultura.

Durante o fim-de-semana, dias 29 e 30, a partir das 14.00H, terá continuidade a actividade de animação O Cantinho das Histórias, terminando a XXII Feira do Livro e XIII Feira do Disco no domingo, às 19.00H.

O certame estará aberto ao público no domingo, dia 23, das 15.00H às 21.00H, de segunda a quinta-feira, das 10.00H às 12.30H e das 14.00H às 19.00H, na sexta-feira, das 10.00H às 12.30H e das 14.00H às 21.00H, sábado das 14.00H às 21.30H e no domingo, (dia 30) das 14.00H às 19.00H.

Por CMC

Caminhos.


O caminho com menos obstáculos é o caminho do perdedor .

Conserto a palavra.




Conserto a palavra com todos os sentidos em silêncio
Restauro-a
Dou-lhe um som para que ela fale por dentro
Ilumino-a

Ela é um candeeiro sobre a minha mesa
Reunida numa forma comparada à lâmpada
A um zumbido calado momentaneamente em exame

Ela não se come como as palavras inteiras
Mas devora-se a si mesma e restauro-a
A partir do vómito
Volto devagar a colocá-la na fome

Perco-a e recupero-a como o tempo da tristeza
Como um homem nadando para trás
E sou uma energia para ela

E ilumino-a

Daniel Faria, in "Homens que São como Lugares Mal Situados

Relendo Eça de Queiroz.


A Cidade e as Serras é uma deliciosa sátira dos progressos ainda canhestros dos tempos modernos e reencontro do romancista com a paisagem de sua meninice. Vê-se também aí, no jogo dos contrastes, o apego nostálgico à essencialidade honesta da vida ainda natural e limpa do interior.